terça-feira, 27 de setembro de 2011

Sobre o Amor...


Então Almitra disse: «fala-nos do Amor.»
E ele ergueu a cabeça e olhou para o povo e caiu uma grande imobilidade sobre eles. E em voz poderosa disse:
«Quando o amor vier ter convosco,
Seguros, embora, de que seus caminhos sejam árduos e sinuosos,
E quando as suas asas vos envolverem, abracem-no, embora a espada oculta sob as asas vos possa ferir.
E quando ele falar convosco, acreditem,
Embora a sua voz possa abalar os vossos sonhos como o vento do norte devasta o jardim.
Pois o amor, coroando-vos, também vos sacrificará.
Mesmo que ele suba até vós e acaricie os mais ternos ramos que tremem ao sol,
Também até às raízes ele descerá e abaná-las-à
Enquanto elas se agarram á terra.
Como molhos de trigo ele vos junta a si,
Vos amanha para vos pôr a nu ;
Vos peneira para vos libertar das impurezas ;
Vos mói até à alvura ;
Vos amassa até se tornarem moldáveis ;
E depois entrega-vos ao seu fogo sagrado, para que se tornem pão sagrado para a sagrada festa de Deus.
Todas estas coisas vos fará o amor até que conheçam os segredos do vosso coração, e, com esse conhecimento, se tornem um fragmento do coração da Vida.
Mas se, receosos, procurarem só a paz do amor e o prazer do amor,
Então é melhor que ocultem a vossa nudez e saiam do amor,
Para o mundo sem sentido onde rirão, mas não com todo a vosso riso, e chorarão mas não com todas as vossas lágrimas.
O amor só se dá a si e não tira nada senão de si.
O amor não possui nem é possuido;
Pois o amor basta-se a si próprio.
Quando amarem não devem dizer “ Deus está no meu coração “, mas antes “Eu estou no coração de Deus.” »
                       Excertos do texto «Sobre o Amor», in Khalil Gibran, O Profeta.

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